A heroína
(Filme em milimétrica metragem)
Cena 1 – Um homem branco entra no
banheiro.
Acende a luz, fecha a porta e
abre a braguilha,
o tira para fora e antes que comece
a urinar...
Cena 2 – ...Uma formiga nasce bem
pequena.
Na verdade de um pequeno ovo.
Ovo?
Cresce, trabalha, ganha asas, e
tola, pousa na orelha do homem.
Cena 3 – A urina não sai. Ele a
derruba da orelha no vaso.
Solta um palavrão do tipo que
rima com sanitário.
A formiga se debate e ele espia,
ela parece não desanimar, nada.
Cena 4 - Ele tenta urinar na
formiga que debate, a situação dela é crítica.
A urina não sai. Condoído por sua
luta intuitiva de sobreviver ele a salva.
Faz um rolinho de papel
higiênico, e depois que ela sobe, ele a atira pelo vitraux.
Cena 5 – Volta-se para o seu
membro. – finalmente! – murmura,
Olha novamente para janela, algo
se mexe em seu pincel de barbear. Saco!
Saco? – esquece a urina e apanha
o pincel batendo-o sobre o vidro: ela cai.
Cena 6 - A pobre despenca, longos
segundos de sua vida para pensar
na besteira que é ter asas. O
homem branco agora parece satisfeito!
Olha para porcaria do objeto e
saboreia a urina caindo no vaso.
Cena 7 – Constatada as bolhas de
poluição no pequeno lago, saciado, o guarda,
fecha a porta e apaga a luz. Sem
pensar vai até a cozinha, pega um copo,
entorna água e bebe. Há um grande
prazer em seu peito – Ah! Água fresca!
Cena 8 – A formiga está
machucada, mas ela nem parece sentir,
perdeu uma das asas na queda e
segue tentando, precisará subir tudo de novo,
só que agora sem voar. Uma asa só
pesa para um dos lados. Mais sofrer.
Cena 9 – Ela salta pela fresta do
vidro na maciez do pincel, ela não tem idéia
nenhuma do perigo. Sua asa única,
agora, enrosca-se nos pelos do pincel.
O homem bebeu sua água. A tevê
está ligada: O locutor – as formigas...
Cena 10 – O homem branco, 50
anos, entra no banheiro, acende a luz, levanta a tampa do vaso sanitário, tira
seu instrumento urinário e... Olha para o vitraux. A formiga se encolhe, mas
ele a vê, toma o pincel com a mão livre e a joga no vaso. Dá descarga!
- Adeus formiga do cacete!!!!
ZéReys – poeta do profundo.
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A fé de uma pessoa está relacionada com aquilo que ela mais precisa, pois em caso contrário, ela não precisaria de nada.
ZéReys.