Ao adentrar a este blog, sinta-se em sua casa. Aqui você estará dentro de você mesmo. Vamos caminhar em seu profundo e no profundo de cada ser, de cada coisa, a proposta é ousada por que você estará saindo da superficialidade desde mundo imbecilizado. Vamos ser poético e vamos desvendar a razão do simples, não haverá chícaras sobre a mesa, que não será desmistificada pois há um profundo dentro dela a ser desvendado - seja bem vindo!
Jesus morava de um lado da
rua e ela do outro, só que de frente da casa de Jesus havia um quintal imenso,
(naquela época, mesmo nas casas de gente paupérrima se jogava comida fora, como
prova de fartura, e os terrenos não fugiam às regras - eram grandes) e, como
tudo era exagerado, aquele quintal baldio parecia mais um sitio lá no Japão.
2-
Madalena morava pegada a este
quintal imenso e os fundos de sua casa, eram cercados por uma tela de arame,
como se fosse uma rede de travas de futebol - para divisar os terrenos - ali,
os pintos passavam pelos buracos e as galinhas ficavam piando do outro lado. De
vez em quando, elas socavam suas cabeças avermelhadas - com cara de membro sexual masculino - e danavam a piar para chamar seus pintos que acabavam se
afastando de suas gloriosas mães.
3 -
Madalena era uma mulata
fogosa e de corpo estrutural, tinha vinte e seis anos e era daquelas que nem o
diabo podia. Sempre que se inventava alguma festa lá estava ela se sacolejando
toda, qual uma cobra no asfalto quente. Enquanto que Jesus a espiava de longe,
com cara de menino maroto. Na verdade, Madalena nem o notava sempre que estava
em seu doce mundo da gandaia.
4 -
Jesus era um menino ingênuo e
tímido, exceto quando ele bebia vinho na festa de Cosme e Damião promovido pelo
centro espírita – Luz do céu.
Era danado, ele, sabia onde o
povo escondia o garrafão e, escondido ia lá com uma caneca e entornava uma boa
talagada e enchia a caveira dando uma golada de quase sair pelas narinas,
ficando meio grogue logo em seguida, ai sim, ele se desvencilhava da timidez e
partia para mexer com as garotas.
5 -
Porém, por Jesus ser
absurdamente feio e raquítico - como se fosse um daqueles ratos de deserto do
filme de Ali babá -, com seus cabelos compridos, unhas sujas, e roupas rotas
com seu pobre e pequeno pinto a toda hora saindo pelo buraco do pano da calça -
como se fossem os das galinhas vazando as telas - sem que vise, nem as meninas
ou Madalena chegavam perto dele. Por esse e outros fatos, o próprio menino
queria até ser crucificado - devido tanta rejeição. O que talvez o salvasse de
um suicídio, era que por ser virgem vivia sonhando em estar com Madalena
naquele quintal imenso cheio de mamoneiras.
6 -
Madalena era uma mulher formada, adulta e adultera. Seu marido ou amante –
ninguém entendia aquele “rolo” dela – pois, só se via o camarada por ali, umas
três ou quatro vezes por ano e isso, inclusive, fazia com que alguns dissessem que
ela recebia pelos correios o dinheiro que ele lhe mandava para pagar suas
despesas - mas como nem só de pão viverá o homem - alguém também já havia dito isso
-, Madalena com todo aquele fogo na sarça, e, para não ser chamada de
prostituta, fazia questão de nunca cobrar pelos seus desprendimentos benévolos,
sem contar que ela adorava ser iniciadora dos meninos desvalidos – há de se
entender que nesta época, prostitutas eram presas e tratadas a pauladas ou eram
apedrejadas em vias públicas, quando não as duas coisas.
7 -
Embora não fosse ela
exatamente uma prostituta, mas uma benfeitora dos garotos desvalidos – se é que
me entendem – às vezes ela exagerava, principalmente quando tomava uns goles de
vinho do boteco do Tadeco e depois ia para algumas das festas e dançava fazendo
trejeitos considerados obscenos por alguns, e assim, um dia desses, foi só uma
pessoa tomar coragem para começar a gritar que todos gritaram também.
- Joga merda na Madá , joga
pedra na Madá, ela é feita pra apanhar,
ela gosta é de dá e nunca
quer parar.
8 -
Mas, quem estava ali só espiando
todo aquele bafafá? Isso mesmo, o menino Jesus no limiar de seus treze anos com
a cara surgindo sua décima quinta espinha. E como a festa acontecia logo na
esquina de sua casa, ele correu rapidamente a casa e pegou uma foice de seu
pai, e se atirou na frente da pobre mulher e disse:
- Quem ousar a atirar a
primeira pedra terá dobrado os seus pecados, porque eu lhe corto os sacos!
Então só se via o povo se espalhando diante da fera que este pequeno menino se
tornou. Parecia até um santo tomado de ódio a expulsar jogadores de dados em templos sagrados.
9 -
Ele e Madalena rapidamente se
foram em meios ainda a gritos de algumas pessoas ao longe, Madalena estava
desorientada e quando ia entrando em sua casa, se voltou rapidamente porque se
lembrou que devia agradecê-lo e lhe deu um beijo no rosto. Jesus que não
esperava o carinho, nem teve chance de retribuir o agradecimento, mas para não perder a
excitação, saiu apressado com toda aquela adrenalina. E ela se foi entrando correndo em
casa e se jogando chorando na cama, adormeceu.
10 -
Jesus, ao chegar a sua casa
procurou guardar a foice sem que ninguém o visse, aliás, seu pai tinha muitas
ferramentas de carpintaria, ele era muito bom na arte de fazer telhados com
aqueles desenhos chamados de rabo de andorinhas. Muitas pessoas o procuravam
para este trabalho, e ele, em especial morria de ciúmes desta foicinha que lhe
fora dado por seu pai, avô de Jesus, há quase cinqüenta anos.
11 -
Já havia horas que o dia
tinha amanhecido e Jesus assuntava pela Madalena e nada de vê-la. Ele já tinha
ido as espreitas pela mamonal ver se a via. Mas Madalena poderia estar ainda
dormindo, ou se escondia devido à vergonha do dia anterior. Enquanto isso, Jesus
estava em pé escorado no mourão da cerca de sua velha casa e como alguns
garotos brincavam de rodar piões na rua, ele os observavam e acabou por nem dar
por fé que Madalena, lá da porta de sua cozinha o via, o observava, ali quieto.
12 -
Madalena, então, para chamar a
sua atenção sem que ninguém notasse que era especialmente para ele, deu um
assovio a esmo, colocando um dedo de cada mão no lado oposto do canto da sua
boca e trinou o apito, alto, forte, logo ele levantou a cabeça e notou sua
presença em pé na porta da cozinha. Olharam-se, ele e ela, por um instante e
ela o acenou com a mão dando lhe um sinal de que devia ter com ela. Jesus então
saiu dali como se olhasse para as cores das nuvens e disfarçando-se, sem que
nenhum dos garotos o visse entrou pelo mamonal adentro.
13 -
Quando ele chegou junto da
tela de arame, que divisava os terrenos dela e do mamonal, lá estava ela com uma
caneca na mão. De dentro da vasilha, saia uma fumaça esbranquiçada do calor do
leite com chocolate.
- Tome, fiz pra você! – disse
esticando os braços longos, para passar por cima da grade de tela que os
separavam. Jesus fez o mesmo e apanhou a caneca, depois deu uma assoprada e
bebericou um gole.
-Ui... Está muito bom isso!
- Você gostou... Meu herói!
- Por causa de ontem?
Perguntou, como se já soubesse a resposta, Jesus.
-Sim, meu bem, é claro!
- Ah... Foi nada! Não podia
deixar aqueles bestas lhe matar...
- Fiquei muito sensibilizada
com sua atitude de macho salvador...
- Ficou o quê?
- Feliz de te ver ali armado
em minha frente pronto pra enfrentar aquela gente louca, onde já se viu...
Bando de alucinados! Jesus a olhou sem entender
direito suas palavras, enquanto tomava mais uma golada daquela delícia rara
para ele. Ele era um menino bom e diferente, suas atitudes não eram tomadas racionalmente, mas por pura bondade, inerente.
14 -
Jesus acabou de tomar o leite
com chocolate quente e levantou seu braço para devolver-lhe a caneca, e nesse
momento, foi que ela, propositalmente segurou sua mão que segurava a vasilha, e
com a outra mão pegou a outra mão dele; de modo que ele ficou seguro pelas mãos
dela. Ela o olhou bem dentro de seus olhos, e Jesus então compreendeu, através
do desejo que sentiu, que ela o estava seduzindo. Ela então foi se abaixando, e
à medida que assim procedia, ele a acompanhava até que ambos ficassem
totalmente rentes ao chão. Jesus tinha agora sua face totalmente avermelhada,
pelo fogo que lhe subia e que lhe parecia vir de sua alma boa e condolente.
15 -
Madalena era uma mulher
adulta – como já disse anteriormente -, e Jesus ainda um garoto, cuja
sexualidade estava na flor da ascensão, porém, o que lhe estava acontecendo,
era maravilhoso, divino, delicioso. Aquela sensação de regozijo lhe esparramava
por todo o corpo, lhe dando uma leveza de espírito tal, que sentia que aquele
prazer lhe daria a mesma sensação de viajar sobre nuvens e se esconder atrás
das estrelas para brincar com alguns anjos
16 -
Madalena, sabiamente,
arrastou as mãos dele até suas cochas e pode sentir elas tremularem sobre sua
pele morena. Sentiu seus tremores como se fossem carícias a lhe escorrer para
seus púbis. Fechou os olhos e ofereceu a Jesus, como se seu lábios fosse um
cálice cheio de um vinho derramado pelos céus em suas bocas, e ele como a um santo,
não os recusou, e sentiu-se assim, pela primeira vez, o que seria ser realmente
humano. O que seria, de acordo como entendeu, o melhor prazer que teu Pai do
céu, lhe dava como prova de todo o seu sacrifício de vida. O melhor dos
prazeres!
17 -
Estavam agora em uma estase
total, e simultaneamente, eles se achegavam para juntos, um do outro e da tela
de arame que separavam seus corpos. Havia um respirar ofegante como se fossem
os pobres pintinhos atravessando as frestas triangulares da tela: não eram;
eram de verdades seus hálitos se misturando e se misturando, como se fossem
ambos, espectral. Ela, já estava preparadamente sem suas calcinhas, e por baixo
daquele vestido rodado, onde buscavam as mãos de Jesus sua melhor intimidade,
um calor intenso penetrava em seus dedos...
18 -
Ela o arrastava contra a tela
fria, ele a seguia e se impulsionava buscando chegar mais próximo dela e assim,
ele se espremia contra a tela e ela se espremia contra ele. Suas bocas
sangravam, sem que notassem por que o arame da tela, devido o frenesi os
machucavam. Seu sangue misturou-es com o dela. De seus olhos, escorria dois pares de lágrimas e se misturavam
entre os arames e as folhas das mamoneiras, por que naquele exato momento em
que ambos saciavam-se, começava uma chuva fina sob um sol forte que brilhava
intensamente, transformando todas as gotas de chuva em pingos de ouro,
escorridos pelas folhas das mamoneiras e caindo em seus rostos suados...
19-
E foi assim, que Jesus,
recebeu de Madalena, seu primeiro batismo de ser homem, tornando-o um ser
humano, e, herói. Aquele que poderia ser o que quisesse ser, até mesmo um deus,
por que um homem que descobre o prazer de ser homem poderá ser tudo, que
quaisquer deuses ou deusa o tenham dado!
Ela amava tão intensamente e
tão entusiasticamente, mas o seu ciúme suplantava este amor que ela sentia tão
fortemente... Aparentemente ela amava muito. Ele (seu ciúme) mandava nela e ela
tentava mandar em seu homem, de tal maneira tão inconsequente, que o oprimia
involuntariamente, já que no fundo, ela também sofria muito.
Eu ficava intrigado, porque
embora fosse tão veemente sua vontade de prender o seu amado, ela vivia o
paradoxo de sua própria liberdade, como se ela fosse um carcereiro de seu amor e seu amor um prisioneiro de seu ciúme. Isto, inclusive, sem admitir sua
liberdade cerceada na mesma proporção.
Depois das conjecturas
imaginativas com farturas de coisas inexistentes, ela chorava desesperada e lhe
pedia perdão com a mesma veemência com que o julgava e o condenava, bem antes até
de que ele soubesse a causa.
Depois das brigas, ela o
seduzia como uma víbora e fazia amor intenso, como forma de demonstrar seu amor
e sua paixão aloucada. Era uma fera alucinada, naqueles cavalgares de posições
e lugares. Suas fantasias eram infindas.
- Eu me lembro até de um
tempo, em que certos homens, diziam: “O homem não precisa saber por que está
batendo; porque a mulher saberá bem por que está apanhando!” Era um pensamento
estranhamente machista de homens ciumentos que queriam – à força do medo - ter
fidelidade absoluta, e jamais perder aquela mulher que “diziam que amavam” Ela
não era o homem que batia ou que apanhava, mas era a mulher que o sufocava, com
seus ciúmes na mesma proporção violenta com que aqueles homens praticavam seus
medos da perda.
O meu amigo, que me
confidenciava esta sua situação, já havia sido casado, e me dissera ele, que a sua primeira mulher era uma “mosca morta” então, talvez por isso, esta fera
felina, que o feria e o amava e o enciumava tanto, como se ela fosse uma
adolescente - marinheira de primeira ida - o deixava enlouquecido, sofrido, e ambos
apaixonados, ao mesmo tempo.
Ela era linda e de belas
coxas, que sempre - como se buscasse nele o mesmo teor de ciúmes, pois
considerava ser amor, este sentimento opressor - deixava meio que à mostras
essas suas partes convidativas, de formas provocativas. Mas como ela o
enciumava em demasia, e lhe sugava todas as forças naquele seu amar intenso e
seguido, ele não a enciumava, na verdade, ele nem notava sua carência em ser
notada e também enciumada. Vivia absolutamente saciado, talvez nem em seus
momentos íntimos, ele as visse, como ela gostaria.
Mas ela, por aquele sentimento opressor,
pensava que ele não a amava tanto, como ela merecia, pois além de não perceber os
ciúmes dele, ainda lhe parecia sempre estar na carência de saciar-se
completamente. Seria ela daquelas mulheres insaciáveis, que ouvimos falar? O pobre homem era engolido para não ser homem, mas ai dele se se recusasse a ser. Isso
era como um grilo grilando em minha cabeça. Além do quê, sempre que ela queria
aprontar alguma, ela atacava de ciúmes só para virar a cara e o deixar com cara
de culpado.
Certo dia eu acordei no meio
da noite e olhei para minha companheira por alguns instantes, vi que ela dormia
profundamente; levantei-me e dei por mim reparando uma moldura de sombra
refletida na parede branca da sala, algo estranho formava-se com a sombra, uma silhueta mística, cuja mistura branca com mancha meio escurecida, vindo da
cortina da janela da sala, moldava aquelas coxas bem feitas, lisas e bonitas, desta
referida mulher de meu amigo.
-
Meu Deus... O que é isso? Perguntei-me,
quase em silêncio. Ainda observando aquela imagem confusa refletida na parede, fui
e voltei algumas vezes até a porta do quarto para tentar voltar a dormir, e
acabei por ficar ali olhando para a sombra, por não sei quanto tempo.
-
Será que as confidências de Geraldo estão me aguçando esta visão? – pensei sem
acreditar muito e ainda me sentir confuso. Tentei deixar de lado aquilo e ir dormir,
o que foi impossível. Não consegui!
Rolei na cama até de manhã
sem conseguir adormecer novamente, depois me levantei e sem querer ou designar
meus passos, me vi caminhando ao encontro de Geraldo.
-
Bom, dia! Eu disse fingindo entusiasmado a ele. Embora eu também não tivesse
dormido bem.
-
Bom dia! Disse-me ele com cara de sono e abatido, como alguém que havia
trabalhado a noite toda embaixo de chibata.
-
Amigo, acho que vou ter que procurar ajuda! – me disse Geraldo, sabendo que eu
o entenderia e saberia do que me falava.
-
Ora amigo, sabe que pode contar comigo! – Exclamei involuntário sem perceber que
estava sendo oportunista e que daquela conversa, eu poderia lucrar alguma
coisa. Na verdade eu nem dei por fé sobre a coincidência do acaso.
-
Mas o que você poderia fazer para me ajudar, sem provocar a fera contra mim. – De
antemão já me perpassou uma porção de coisas na mente, mas consegui me conter e dizer a ele que me
aguardasse, pois precisaria de um tempo para achar algo conveniente.
Eu tinha uma loja de eletrônicos
e meu amigo Geraldo, trabalhava em outro seguimento. Despedimos-nos e eu fui
para o meu trabalho, e na minha loja, eu me sentia excitado com aquela ideia de
poder estar perto daquela mulher atraente e sentir aquele perfume, que de longe
eu já gostava de sentir, e que também de tanto ele me contar seus arroubos, eu
ficava entre o medo e a curiosidade de ouvir sua fala e algum trejeito que por
acaso me faria desprender da timidez e acabar lhe dizendo algum desejo recôndito. Não sei, mas talvez no fundo, eu sentisse um pouco de inveja dele. Mas, e se ela tiver um surto e me bater nas faces, ou me xingar e contar ao
Geraldo.
- Além
de tudo vou perder o amigo! – refleti falando comigo mesmo, acompanhado, talvez, de algum anjo moralista.
No dia seguinte evitei falar
com o Geraldo e mudei de caminho para não encontrá-lo, mas por volta das dez
horas, percebi alguém chegar a minha loja e dei de cara com a mulher do amigo,
confesso que fiquei sem fala por alguns segundos e a olhei nos olhos castanhos
profundos sem dizer nenhuma palavra, então ela me disse:
- O senhor poderia ir a minha
casa para ver nosso televisor, parou de funcionar ontem à noite! E, se calou
esperando minha resposta. Dentro de um silêncio de alguns segundos, eu lhe respondi dizendo que sim eu poderia ir.
Ela se virou para sair e eu
fiquei a olhar teus quadris, como se estivesse sendo puxado por eles, só depois
de alguns minutos quando já estava recomposto do susto, pude juntar minhas
ferramentas e colocá-las em uma maleta e sair para atendê-la. Quando eu cheguei
lá ela veio me receber e tinha um sorriso meio escondido e entre dentes, como
se arquitetasse alguma molecagem, como aquelas crianças peraltas, (que todos
nós, conhecemos).
Em pé na porta, a espera do comando
dela, por um instante, enquanto ela vinha em minha direção, fiquei. Assustei-me, entretanto, quando ela esticou sua mão e me pegou pelo braço dizendo-me:
-
Sente-se, por favor... Estava com a cabeça abaixada quando eu a olhei fitando-a
sem esperar que me retribuísse. Mas ela, como se sentisse, me retornou o olhar
repentinamente, e foi me dizendo:
-
Meu marido me disse que esteve conversando com o senhor sobre meu
relacionamento com ele... Ele se queixou de alguma coisa em especial? Ele me disse que confia muito no senhor, e, isso é muito!
-
Não, sim... Gaguejei. Ele me disse que a senhora é muito ciumenta e muito ávida!
- Ávida...
Ele disse que eu era ávida? É... Acho que
ávida está bom, sou ávida pelo amor, o senhor me entende?
-
Sim, acho que sim... – Disse eu meio sem saber como colocar outras palavras. Então
depois destes preliminares, ela se aproximou do lugar em que eu sentava e
colocou sua mão direita sobre o meu joelho. Deixou-se ali por um tempo e depois
retirou, talvez vendo meu meio constrangimento silencioso.
-
Será que o senhor poderá nos ajudar, sinto que o meu marido está se acabando...Tenho medo até de que ele arrume outra esposa.
–
Bom! Eu disse, pensando: se vocês me permitirem eu posso tentar.
-
Na verdade, senhor Fernão, eu é que tenho que consentir, por que meu marido não
terá cabeça para fazer isso, creio que ele esteja precisando de alguns dias de
descanso, coisa que o senhor compreende de que sendo assim, teremos muito tempo
para aprender, não é?
-
Principalmente eu. Não é senhora? Arrisquei.
-
Que isso senhor Fernão, deixe de falsa humildade... – Deu um risinho de canto
de lábios, para apagar a feição vexada.
O tempo parecia voar para
mim, por que temia a chegada de seu marido para o almoço e ele poderia pensar
coisas indevidas a nosso respeito, já que ela estava tão próxima de mim, que
tive impressão de ouvir seu sugar de ar.
E eu não via a hora de sair
correndo, sem esquecer as ferramentas, é claro.
- E
a televisão que estava com defeito? - Tentei falar com voz firme.
-
Ah, sim! É aquela ali, ontem não quis funcionar de jeito nenhum...
-
Me levantei e fui ligar o aparelho para ver o resultado, mas quando liguei, o
aparelho funcionou normalmente. Demonstrando que não havia nada de errado com
ele.
-
Senhora! - Chamei-a - pois ela havia saído da sala e entrado no quarto.
-
Sim, vou indo! - Respondeu-me de onde estava. Passados alguns minutos ela voltou e
veio ter comigo, só que agora vestia outra roupa, muito mais informal e
atraente, senti um certo frescor vindo dela como se me tivesse chegado uma fonte de água.
-
Sua televisão não me parece com defeito!
-
Ah... Não? Pois bem, sendo assim, poderemos começar agora mesmo com aquela
ajuda que o senhor prometeu, o que acha? Disse e em seguida deu dois passos... Fui literalmente pego de surpresa! - Bem... Eu acho que... Bom não sei... Será
que...gluss! hum!.. Bom... Não sei...
Na vida de toda a gente há
braçados floridos dessastolicessem importância. Só a raros eleitos é dado o milagroso dom
de um grande amor. Eu teria muita pena que o destino não me trouxesse esse
grande amor que foi o meu grande sonho pela vida fora. Devo agradecer ao
destino o favor de ter ouvido a minha voz. Pôr finalmente, no meu caminho, a
linda alma nova, ardente e carinhosa que é todo o meu amparo, toda a minha
riqueza, toda a minha felicidade neste mundo. A morte pode vir quando quiser:
trago as mãos cheias de rosas e o coração em festa: posso partir contente.