Geraldo, a mulher e Fernão
Um dia, eu conheci uma pessoa
assim:
Ela amava tão intensamente e
tão entusiasticamente, mas o seu ciúme suplantava este amor que ela sentia tão
fortemente... Aparentemente ela amava muito. Ele (seu ciúme) mandava nela e ela
tentava mandar em seu homem, de tal maneira tão inconsequente, que o oprimia
involuntariamente, já que no fundo, ela também sofria muito.
Eu ficava intrigado, porque
embora fosse tão veemente sua vontade de prender o seu amado, ela vivia o
paradoxo de sua própria liberdade, como se ela fosse um carcereiro de seu amor e seu amor um prisioneiro de seu ciúme. Isto, inclusive, sem admitir sua
liberdade cerceada na mesma proporção.
Depois das conjecturas
imaginativas com farturas de coisas inexistentes, ela chorava desesperada e lhe
pedia perdão com a mesma veemência com que o julgava e o condenava, bem antes até
de que ele soubesse a causa.
Depois das brigas, ela o
seduzia como uma víbora e fazia amor intenso, como forma de demonstrar seu amor
e sua paixão aloucada. Era uma fera alucinada, naqueles cavalgares de posições
e lugares. Suas fantasias eram infindas.
- Eu me lembro até de um
tempo, em que certos homens, diziam: “O homem não precisa saber por que está
batendo; porque a mulher saberá bem por que está apanhando!” Era um pensamento
estranhamente machista de homens ciumentos que queriam – à força do medo - ter
fidelidade absoluta, e jamais perder aquela mulher que “diziam que amavam” Ela
não era o homem que batia ou que apanhava, mas era a mulher que o sufocava, com
seus ciúmes na mesma proporção violenta com que aqueles homens praticavam seus
medos da perda.
O meu amigo, que me
confidenciava esta sua situação, já havia sido casado, e me dissera ele, que a sua primeira mulher era uma “mosca morta” então, talvez por isso, esta fera
felina, que o feria e o amava e o enciumava tanto, como se ela fosse uma
adolescente - marinheira de primeira ida - o deixava enlouquecido, sofrido, e ambos
apaixonados, ao mesmo tempo.
Ela era linda e de belas
coxas, que sempre - como se buscasse nele o mesmo teor de ciúmes, pois
considerava ser amor, este sentimento opressor - deixava meio que à mostras
essas suas partes convidativas, de formas provocativas. Mas como ela o
enciumava em demasia, e lhe sugava todas as forças naquele seu amar intenso e
seguido, ele não a enciumava, na verdade, ele nem notava sua carência em ser
notada e também enciumada. Vivia absolutamente saciado, talvez nem em seus
momentos íntimos, ele as visse, como ela gostaria.
Mas ela, por aquele sentimento opressor,
pensava que ele não a amava tanto, como ela merecia, pois além de não perceber os
ciúmes dele, ainda lhe parecia sempre estar na carência de saciar-se
completamente. Seria ela daquelas mulheres insaciáveis, que ouvimos falar? O pobre homem era engolido para não ser homem, mas ai dele se se recusasse a ser. Isso
era como um grilo grilando em minha cabeça. Além do quê, sempre que ela queria
aprontar alguma, ela atacava de ciúmes só para virar a cara e o deixar com cara
de culpado.
Certo dia eu acordei no meio
da noite e olhei para minha companheira por alguns instantes, vi que ela dormia
profundamente; levantei-me e dei por mim reparando uma moldura de sombra
refletida na parede branca da sala, algo estranho formava-se com a sombra, uma silhueta mística, cuja mistura branca com mancha meio escurecida, vindo da
cortina da janela da sala, moldava aquelas coxas bem feitas, lisas e bonitas, desta
referida mulher de meu amigo.
-
Meu Deus... O que é isso? Perguntei-me,
quase em silêncio. Ainda observando aquela imagem confusa refletida na parede, fui
e voltei algumas vezes até a porta do quarto para tentar voltar a dormir, e
acabei por ficar ali olhando para a sombra, por não sei quanto tempo.
-
Será que as confidências de Geraldo estão me aguçando esta visão? – pensei sem
acreditar muito e ainda me sentir confuso. Tentei deixar de lado aquilo e ir dormir,
o que foi impossível. Não consegui!
Rolei na cama até de manhã
sem conseguir adormecer novamente, depois me levantei e sem querer ou designar
meus passos, me vi caminhando ao encontro de Geraldo.
-
Bom, dia! Eu disse fingindo entusiasmado a ele. Embora eu também não tivesse
dormido bem.
-
Bom dia! Disse-me ele com cara de sono e abatido, como alguém que havia
trabalhado a noite toda embaixo de chibata.
-
Amigo, acho que vou ter que procurar ajuda! – me disse Geraldo, sabendo que eu
o entenderia e saberia do que me falava.
-
Ora amigo, sabe que pode contar comigo! – Exclamei involuntário sem perceber que
estava sendo oportunista e que daquela conversa, eu poderia lucrar alguma
coisa. Na verdade eu nem dei por fé sobre a coincidência do acaso.
-
Mas o que você poderia fazer para me ajudar, sem provocar a fera contra mim. – De
antemão já me perpassou uma porção de coisas na mente, mas consegui me conter e dizer a ele que me
aguardasse, pois precisaria de um tempo para achar algo conveniente.
Eu tinha uma loja de eletrônicos
e meu amigo Geraldo, trabalhava em outro seguimento. Despedimos-nos e eu fui
para o meu trabalho, e na minha loja, eu me sentia excitado com aquela ideia de
poder estar perto daquela mulher atraente e sentir aquele perfume, que de longe
eu já gostava de sentir, e que também de tanto ele me contar seus arroubos, eu
ficava entre o medo e a curiosidade de ouvir sua fala e algum trejeito que por
acaso me faria desprender da timidez e acabar lhe dizendo algum desejo recôndito. Não sei, mas talvez no fundo, eu sentisse um pouco de inveja dele. Mas, e se ela tiver um surto e me bater nas faces, ou me xingar e contar ao
Geraldo.
- Além
de tudo vou perder o amigo! – refleti falando comigo mesmo, acompanhado, talvez, de algum anjo moralista.
No dia seguinte evitei falar
com o Geraldo e mudei de caminho para não encontrá-lo, mas por volta das dez
horas, percebi alguém chegar a minha loja e dei de cara com a mulher do amigo,
confesso que fiquei sem fala por alguns segundos e a olhei nos olhos castanhos
profundos sem dizer nenhuma palavra, então ela me disse:
- O senhor poderia ir a minha
casa para ver nosso televisor, parou de funcionar ontem à noite! E, se calou
esperando minha resposta. Dentro de um silêncio de alguns segundos, eu lhe respondi dizendo que sim eu poderia ir.
Ela se virou para sair e eu
fiquei a olhar teus quadris, como se estivesse sendo puxado por eles, só depois
de alguns minutos quando já estava recomposto do susto, pude juntar minhas
ferramentas e colocá-las em uma maleta e sair para atendê-la. Quando eu cheguei
lá ela veio me receber e tinha um sorriso meio escondido e entre dentes, como
se arquitetasse alguma molecagem, como aquelas crianças peraltas, (que todos
nós, conhecemos).
Em pé na porta, a espera do comando
dela, por um instante, enquanto ela vinha em minha direção, fiquei. Assustei-me, entretanto, quando ela esticou sua mão e me pegou pelo braço dizendo-me:
-
Sente-se, por favor... Estava com a cabeça abaixada quando eu a olhei fitando-a
sem esperar que me retribuísse. Mas ela, como se sentisse, me retornou o olhar
repentinamente, e foi me dizendo:
-
Meu marido me disse que esteve conversando com o senhor sobre meu
relacionamento com ele... Ele se queixou de alguma coisa em especial? Ele me disse que confia muito no senhor, e, isso é muito!
-
Não, sim... Gaguejei. Ele me disse que a senhora é muito ciumenta e muito ávida!
- Ávida...
Ele disse que eu era ávida? É... Acho que
ávida está bom, sou ávida pelo amor, o senhor me entende?
-
Sim, acho que sim... – Disse eu meio sem saber como colocar outras palavras. Então
depois destes preliminares, ela se aproximou do lugar em que eu sentava e
colocou sua mão direita sobre o meu joelho. Deixou-se ali por um tempo e depois
retirou, talvez vendo meu meio constrangimento silencioso.
-
Será que o senhor poderá nos ajudar, sinto que o meu marido está se acabando...Tenho medo até de que ele arrume outra esposa.
–
Bom! Eu disse, pensando: se vocês me permitirem eu posso tentar.
-
Na verdade, senhor Fernão, eu é que tenho que consentir, por que meu marido não
terá cabeça para fazer isso, creio que ele esteja precisando de alguns dias de
descanso, coisa que o senhor compreende de que sendo assim, teremos muito tempo
para aprender, não é?
-
Principalmente eu. Não é senhora? Arrisquei.
-
Que isso senhor Fernão, deixe de falsa humildade... – Deu um risinho de canto
de lábios, para apagar a feição vexada.
O tempo parecia voar para
mim, por que temia a chegada de seu marido para o almoço e ele poderia pensar
coisas indevidas a nosso respeito, já que ela estava tão próxima de mim, que
tive impressão de ouvir seu sugar de ar.
E eu não via a hora de sair
correndo, sem esquecer as ferramentas, é claro.
- E
a televisão que estava com defeito? - Tentei falar com voz firme.
-
Ah, sim! É aquela ali, ontem não quis funcionar de jeito nenhum...
-
Me levantei e fui ligar o aparelho para ver o resultado, mas quando liguei, o
aparelho funcionou normalmente. Demonstrando que não havia nada de errado com
ele.
-
Senhora! - Chamei-a - pois ela havia saído da sala e entrado no quarto.
-
Sim, vou indo! - Respondeu-me de onde estava. Passados alguns minutos ela voltou e
veio ter comigo, só que agora vestia outra roupa, muito mais informal e
atraente, senti um certo frescor vindo dela como se me tivesse chegado uma fonte de água.
-
Sua televisão não me parece com defeito!
-
Ah... Não? Pois bem, sendo assim, poderemos começar agora mesmo com aquela
ajuda que o senhor prometeu, o que acha? Disse e em seguida deu dois passos... Fui literalmente pego de surpresa!
- Bem... Eu acho que... Bom não sei... Será que...gluss! hum!.. Bom... Não sei...
- Bem... Eu acho que... Bom não sei... Será que...gluss! hum!.. Bom... Não sei...
Fim.
O trabalho (Conto) - GERALDO, A MULHER E
FERNÃO de ZéReys
- poeta do profundo, foi licenciado com uma
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base no trabalho disponível em http://www.facebook.com/zedosreys.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em zedosreys@gmail.com
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Meus Deus que beleza este conto.
ResponderExcluirMe identifiquei com a personagem que muita ama, ciumentíssima, insegura e possessiva.....no entanto é preciso mudar, pois este perfil colaborou com um rompimento que até hoje dói...