(Uma historia de amor)
1 -
1 -
Jesus morava de um lado da
rua e ela do outro, só que de frente da casa de Jesus havia um quintal imenso,
(naquela época, mesmo nas casas de gente paupérrima se jogava comida fora, como
prova de fartura, e os terrenos não fugiam às regras - eram grandes) e, como
tudo era exagerado, aquele quintal baldio parecia mais um sitio lá no Japão.
2-
Madalena morava pegada a este
quintal imenso e os fundos de sua casa, eram cercados por uma tela de arame,
como se fosse uma rede de travas de futebol - para divisar os terrenos - ali,
os pintos passavam pelos buracos e as galinhas ficavam piando do outro lado. De
vez em quando, elas socavam suas cabeças avermelhadas - com cara de membro sexual masculino - e danavam a piar para chamar seus pintos que acabavam se
afastando de suas gloriosas mães.
3 -
Madalena era uma mulata
fogosa e de corpo estrutural, tinha vinte e seis anos e era daquelas que nem o
diabo podia. Sempre que se inventava alguma festa lá estava ela se sacolejando
toda, qual uma cobra no asfalto quente. Enquanto que Jesus a espiava de longe,
com cara de menino maroto. Na verdade, Madalena nem o notava sempre que estava
em seu doce mundo da gandaia.
4 -
Jesus era um menino ingênuo e
tímido, exceto quando ele bebia vinho na festa de Cosme e Damião promovido pelo
centro espírita – Luz do céu.
Era danado, ele, sabia onde o
povo escondia o garrafão e, escondido ia lá com uma caneca e entornava uma boa
talagada e enchia a caveira dando uma golada de quase sair pelas narinas,
ficando meio grogue logo em seguida, ai sim, ele se desvencilhava da timidez e
partia para mexer com as garotas.
5 -
Porém, por Jesus ser
absurdamente feio e raquítico - como se fosse um daqueles ratos de deserto do
filme de Ali babá -, com seus cabelos compridos, unhas sujas, e roupas rotas
com seu pobre e pequeno pinto a toda hora saindo pelo buraco do pano da calça -
como se fossem os das galinhas vazando as telas - sem que vise, nem as meninas
ou Madalena chegavam perto dele. Por esse e outros fatos, o próprio menino
queria até ser crucificado - devido tanta rejeição. O que talvez o salvasse de
um suicídio, era que por ser virgem vivia sonhando em estar com Madalena
naquele quintal imenso cheio de mamoneiras.
6 -
Madalena era uma mulher formada, adulta e adultera. Seu marido ou amante –
ninguém entendia aquele “rolo” dela – pois, só se via o camarada por ali, umas
três ou quatro vezes por ano e isso, inclusive, fazia com que alguns dissessem que
ela recebia pelos correios o dinheiro que ele lhe mandava para pagar suas
despesas - mas como nem só de pão viverá o homem - alguém também já havia dito isso
-, Madalena com todo aquele fogo na sarça, e, para não ser chamada de
prostituta, fazia questão de nunca cobrar pelos seus desprendimentos benévolos,
sem contar que ela adorava ser iniciadora dos meninos desvalidos – há de se
entender que nesta época, prostitutas eram presas e tratadas a pauladas ou eram
apedrejadas em vias públicas, quando não as duas coisas.
7 -
Embora não fosse ela
exatamente uma prostituta, mas uma benfeitora dos garotos desvalidos – se é que
me entendem – às vezes ela exagerava, principalmente quando tomava uns goles de
vinho do boteco do Tadeco e depois ia para algumas das festas e dançava fazendo
trejeitos considerados obscenos por alguns, e assim, um dia desses, foi só uma
pessoa tomar coragem para começar a gritar que todos gritaram também.
- Joga merda na Madá , joga
pedra na Madá, ela é feita pra apanhar,
ela gosta é de dá e nunca
quer parar.
8 -
Mas, quem estava ali só espiando
todo aquele bafafá? Isso mesmo, o menino Jesus no limiar de seus treze anos com
a cara surgindo sua décima quinta espinha. E como a festa acontecia logo na
esquina de sua casa, ele correu rapidamente a casa e pegou uma foice de seu
pai, e se atirou na frente da pobre mulher e disse:
- Quem ousar a atirar a
primeira pedra terá dobrado os seus pecados, porque eu lhe corto os sacos!
Então só se via o povo se espalhando diante da fera que este pequeno menino se
tornou. Parecia até um santo tomado de ódio a expulsar jogadores de dados em templos sagrados.
9 -
Ele e Madalena rapidamente se
foram em meios ainda a gritos de algumas pessoas ao longe, Madalena estava
desorientada e quando ia entrando em sua casa, se voltou rapidamente porque se
lembrou que devia agradecê-lo e lhe deu um beijo no rosto. Jesus que não
esperava o carinho, nem teve chance de retribuir o agradecimento, mas para não perder a
excitação, saiu apressado com toda aquela adrenalina. E ela se foi entrando correndo em
casa e se jogando chorando na cama, adormeceu.
10 -
Jesus, ao chegar a sua casa
procurou guardar a foice sem que ninguém o visse, aliás, seu pai tinha muitas
ferramentas de carpintaria, ele era muito bom na arte de fazer telhados com
aqueles desenhos chamados de rabo de andorinhas. Muitas pessoas o procuravam
para este trabalho, e ele, em especial morria de ciúmes desta foicinha que lhe
fora dado por seu pai, avô de Jesus, há quase cinqüenta anos.
11 -
Já havia horas que o dia
tinha amanhecido e Jesus assuntava pela Madalena e nada de vê-la. Ele já tinha
ido as espreitas pela mamonal ver se a via. Mas Madalena poderia estar ainda
dormindo, ou se escondia devido à vergonha do dia anterior. Enquanto isso, Jesus
estava em pé escorado no mourão da cerca de sua velha casa e como alguns
garotos brincavam de rodar piões na rua, ele os observavam e acabou por nem dar
por fé que Madalena, lá da porta de sua cozinha o via, o observava, ali quieto.
12 -
Madalena, então, para chamar a
sua atenção sem que ninguém notasse que era especialmente para ele, deu um
assovio a esmo, colocando um dedo de cada mão no lado oposto do canto da sua
boca e trinou o apito, alto, forte, logo ele levantou a cabeça e notou sua
presença em pé na porta da cozinha. Olharam-se, ele e ela, por um instante e
ela o acenou com a mão dando lhe um sinal de que devia ter com ela. Jesus então
saiu dali como se olhasse para as cores das nuvens e disfarçando-se, sem que
nenhum dos garotos o visse entrou pelo mamonal adentro.
13 -
Quando ele chegou junto da
tela de arame, que divisava os terrenos dela e do mamonal, lá estava ela com uma
caneca na mão. De dentro da vasilha, saia uma fumaça esbranquiçada do calor do
leite com chocolate.
- Tome, fiz pra você! – disse
esticando os braços longos, para passar por cima da grade de tela que os
separavam. Jesus fez o mesmo e apanhou a caneca, depois deu uma assoprada e
bebericou um gole.
-Ui... Está muito bom isso!
- Você gostou... Meu herói!
- Por causa de ontem?
Perguntou, como se já soubesse a resposta, Jesus.
-Sim, meu bem, é claro!
- Ah... Foi nada! Não podia
deixar aqueles bestas lhe matar...
- Fiquei muito sensibilizada
com sua atitude de macho salvador...
- Ficou o quê?
- Feliz de te ver ali armado
em minha frente pronto pra enfrentar aquela gente louca, onde já se viu...
Bando de alucinados! Jesus a olhou sem entender
direito suas palavras, enquanto tomava mais uma golada daquela delícia rara
para ele. Ele era um menino bom e diferente, suas atitudes não eram tomadas racionalmente, mas por pura bondade, inerente.
14 -
Jesus acabou de tomar o leite
com chocolate quente e levantou seu braço para devolver-lhe a caneca, e nesse
momento, foi que ela, propositalmente segurou sua mão que segurava a vasilha, e
com a outra mão pegou a outra mão dele; de modo que ele ficou seguro pelas mãos
dela. Ela o olhou bem dentro de seus olhos, e Jesus então compreendeu, através
do desejo que sentiu, que ela o estava seduzindo. Ela então foi se abaixando, e
à medida que assim procedia, ele a acompanhava até que ambos ficassem
totalmente rentes ao chão. Jesus tinha agora sua face totalmente avermelhada,
pelo fogo que lhe subia e que lhe parecia vir de sua alma boa e condolente.
15 -
Madalena era uma mulher
adulta – como já disse anteriormente -, e Jesus ainda um garoto, cuja
sexualidade estava na flor da ascensão, porém, o que lhe estava acontecendo,
era maravilhoso, divino, delicioso. Aquela sensação de regozijo lhe esparramava
por todo o corpo, lhe dando uma leveza de espírito tal, que sentia que aquele
prazer lhe daria a mesma sensação de viajar sobre nuvens e se esconder atrás
das estrelas para brincar com alguns anjos
16 -
Madalena, sabiamente,
arrastou as mãos dele até suas cochas e pode sentir elas tremularem sobre sua
pele morena. Sentiu seus tremores como se fossem carícias a lhe escorrer para
seus púbis. Fechou os olhos e ofereceu a Jesus, como se seu lábios fosse um
cálice cheio de um vinho derramado pelos céus em suas bocas, e ele como a um santo,
não os recusou, e sentiu-se assim, pela primeira vez, o que seria ser realmente
humano. O que seria, de acordo como entendeu, o melhor prazer que teu Pai do
céu, lhe dava como prova de todo o seu sacrifício de vida. O melhor dos
prazeres!
17 -
Estavam agora em uma estase
total, e simultaneamente, eles se achegavam para juntos, um do outro e da tela
de arame que separavam seus corpos. Havia um respirar ofegante como se fossem
os pobres pintinhos atravessando as frestas triangulares da tela: não eram;
eram de verdades seus hálitos se misturando e se misturando, como se fossem
ambos, espectral. Ela, já estava preparadamente sem suas calcinhas, e por baixo
daquele vestido rodado, onde buscavam as mãos de Jesus sua melhor intimidade,
um calor intenso penetrava em seus dedos...
18 -
Ela o arrastava contra a tela
fria, ele a seguia e se impulsionava buscando chegar mais próximo dela e assim,
ele se espremia contra a tela e ela se espremia contra ele. Suas bocas
sangravam, sem que notassem por que o arame da tela, devido o frenesi os
machucavam. Seu sangue misturou-es com o dela. De seus olhos, escorria dois pares de lágrimas e se misturavam
entre os arames e as folhas das mamoneiras, por que naquele exato momento em
que ambos saciavam-se, começava uma chuva fina sob um sol forte que brilhava
intensamente, transformando todas as gotas de chuva em pingos de ouro,
escorridos pelas folhas das mamoneiras e caindo em seus rostos suados...
19-
E foi assim, que Jesus,
recebeu de Madalena, seu primeiro batismo de ser homem, tornando-o um ser
humano, e, herói. Aquele que poderia ser o que quisesse ser, até mesmo um deus,
por que um homem que descobre o prazer de ser homem poderá ser tudo, que
quaisquer deuses ou deusa o tenham dado!
Fim.
O trabalho MADALENA
E O SEMIDEUS - CONTO - deZéReys - poeta do profundo foi licenciado
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Com base no trabalho disponível emhttp://www.facebook.com/zedosreys?ref=tn_tnmn.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em zedosreys@gmail.com.
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Belo conto amigo... Parabéns pela criatividade...bjos
ResponderExcluirhttp://clarafernandopolis.blogspot.com.br/
Obrigado, amiga, pelo comentário, volte sempre!
ExcluirBeijo do poeta!